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Projeto (Re)ComeçArte

 

A sociedade atual vive momentos de grandes transformações que mudam os valores humanos, a forma como temos acesso e consumimos os produtos, as notícias chegam de um lado ao outro do globo em tempo real, viajamos, consumimos arte e socializamos.

Desde o início do novo milénio assistimos, em Portugal, na Europa e no mundo, a um aumento contínuo da taxa de desemprego e a uma precarização das relações e condições de trabalho, com impactos negativos aos mais diversos níveis, social, cultural, económico, psicológico, familiar de quem está privado de trabalho assalariado de forma a satisfazer as suas necessidades mais básicas e familiares. O desemprego massivo, tanto o Desemprego de longa duração (DLD), ou dos jovens constitui um enorme desafio para os governantes portugueses e mundiais que se veem obrigados a elaborar pacotes de medidas por forma, a minimizar os impactos do desemprego. Medidas estas que não devem ser apenas de ordem passiva, assistencialistas, ou seja, o pagamento de subsídios, mas ativas, de formação, reconversão formativa, motivacionais e bem-estar físico e psicológico. Cabe aos governos e a toda a comunidade, através de ações sociais, culturais, educativas e recreativas, em organizações sociais, a responsabilidade de diagnosticar, planificar, comunicar, implementar e avaliar, ações e projetos de intervenção social.

A ideia do projeto (Re)ComeçArte, surgiu em meados de Abril de 2020 durante o primeiro confinamento no âmbito da Unidade Curricular de Programas e Projetos em Animação Sociocultural, PPAS, da Licenciatura em Animação Sociocultural da Escola Superior de Educação Comunicação e Desporto (ESECD) do Instituto Politécnico da Guarda (IPG) e tem como objetivo geral promover o teatro, em particular o Teatro do Oprimido, e a expressão dramática e corporal como estratégias facilitadoras de motivação e integração de pessoas em situação de desemprego, como ferramenta de intervenção social.

Assim, o público a atingir são adultos desempregados a frequentar formação no IEFP da Guarda. As inscrições também são abertas aos desempregados em geral que queiram participar, formando um grupo.

4.1. Projeto


Nome do projeto: (Re)ComeçArte

O projeto possui um nome fabricado “(Re)ComeçArte”, explicado pela junção das palavras “Começar”, “Arte”, e pelo prefixo “Re”, e que significa “Começar” “Começar de novo” “Recomeçar” através da Arte. Depois de uma vida ativa e preenchida por muitas coisas esta é uma oportunidade dos indivíduos em situação de desemprego pararem e repensarem percursos, além disso um ditado muito antigo diz que “Uma adversidade é [pode ser] uma oportunidade disfarçada.” (Kotler; 2006, p. 54) e redirecionar caminhos, através das expressões, e criação artística.

O seu nome desenhado, colorido é específico e único de forma a tornar-se um símbolo de reconhecimento. Este possui um conjunto de símbolos gráficos que o identifica em todas as suas formas de comunicar, contribui para o seu reconhecimento e faz prova da sua existência. O logótipo do projeto, (Figura 5) é constituído por dois elementos: um símbolo, que contém o nome. O símbolo tem uma base retangular, que remete para a solidez, estabilidade e fortaleza. No que respeita às cores, o branco usado no retângulo, segundo o código das cores remete-nos para a verdade, perfeição e a sabedoria. O preto, utilizado no preenchimento do triangulo da base e no nome, representa a inteligência, distinção, confiança, aliadas ao pensamento, o rigor e a dimensão artística.


4.2. Diagnóstico - definição do problema

O mundo está cada vez mais globalizado e influenciado, pela evolução das tecnologias da informação e da comunicação e incessante busca pelo crescimento económico e melhores condições de vida. Evolução registada nas últimas décadas que trouxe ao mundo novos fenómenos sociais, introduzindo nas sociedades contemporâneas “outras realidades e conferindo-lhes características muito próprias destes novos tempos” (Organização Internacional do Trabalho, 2003, p. 5). Aceleradas transformações que trouxeram um crescente número de novas problemáticas, a diversos níveis, sociais, culturais, politicas, educativas, económicas e levam a situações de desemprego, pobreza[1] e exclusão social. Este configura-se como um fenómeno multidimensional, social ou um conjunto de fenómenos interligados que contribuem para a amplificação do excluído. Situação que é produzida pela conjunção das transformações do processo produtivo, com as políticas neoliberais e com a globalização. Resulta de uma desarticulação entre as diferentes frações da sociedade e indivíduos, gerando uma não participação num conjunto mínimo de benefícios que definem um membro de pleno direito, enquanto Cidadão.

Em todo o mundo, milhões e milhões de pessoas sobrevivem sujeitas à pobreza e exclusão social e muito provavelmente assim continuarão por muito tempo. Problemática que afeta todas as sociedades que não pode nem deve permanecer de olhos fechados. Assim, a luta, contra estes graves problemas tornaram-se os principais desafios do desenvolvimento e dos direitos humanos do presente século. Estes conceitos são diferentes e não são sinónimas, nasceram e desenvolveram-se em contextos diferentes à qual por vezes, nos referimos, diferentes, mas que se complementam. Assim, as pessoas excluídas económica e socialmente segundo Hunter, (2000, citado por Borba e Lima, 2011, p. 221), “são vítimas de múltiplas privações resultantes da falta de oportunidades pessoais, sociais, políticas ou financeiras. A noção de exclusão social visa a participação social inadequada, a falta de integração social e a falta de energia”, sofrem de diversos preconceitos, sendo marginalizadas pela sociedade e impedidas de exercer livremente os seus direitos de cidadãos, seja por condições financeiras, religião, cultura, sexualidade, escolhas de vida.

Como refere António Bagão Félix no seu texto para (OIT, 2003, p. 5) o combate à pobreza, à exclusão social e à precariedade “constituem desígnios nacionais, europeus e mundiais. Com efeito, numa sociedade cada vez mais universal é imperioso corrigir assimetrias e promover a inclusão social não só pelo estado, mas também pela sociedade civil, designadamente através da participação direta das pessoas, envolvendo-as e corresponsabilizando-as na prossecução das políticas sociais, ao mesmo tempo que se lhes confere autonomia e se promove a respetiva inserção”. É assim, urgente, tomar medidas ao nível local, nacional e intercontinental através de técnicos especializados que sejam capazes de diagnosticar, planear, implementar e avaliar eficazmente ações que desenvolvam, incluam e promovam a equidade. A inclusão social é assim, um conjunto de ações e medidas que dá prioridade à igualdade de direitos, procurando dar oportunidades de acesso para todos, acabando assim, com um grave problema atual de exclusão social.

4.3. Desemprego

O vocábulo desemprego refere-se à falta de trabalho. Um desempregado é um indivíduo que pertence à população ativa, com idade para trabalhar, no entanto, anda à procura de emprego, mesmo, que sem sucesso. Traduzindo-se, desta forma, na impossibilidade de trabalhar. Quando um país tem uma elevada taxa de desemprego, vai afetar a sua economia, ou esta pode ser reduzida. O desemprego pode ser classificado como voluntário, quando um indivíduo deixa o seu emprego para procurar outro e involuntário, quando, um sujeito é despedido. O termo desemprego significa que uma pessoa se encontra em situação de desocupação, podemos fazer a sua distinção de quatro formas diferentes tais como cíclico, falta de trabalho durante um momento de crise económica, sazonal, surge pela oscilação da oferta e da procura, ficcional, ocorre quando o empregado e a entidade patronal não estão de acordo quanto às condições de trabalho ou de remuneração que não corresponde às expectativas do trabalhador, este demite-se e parte à procura de outro emprego e estrutural, que é o mais grave, tendo em conta que corresponde a um desajuste entre a procura e a oferta de trabalhadores, ou mão-de-obra disponível no mercado. O desemprego é adotado como uma forma de calcular a saúde económica de um país, utilizando como instrumento de medida a “taxa de desemprego”.

Para quem vive uma situação de desemprego, este pode-se traduzir numa sensação de fracasso, em particular quando se veem privados do trabalho durante longos períodos, muitas vezes por um ou mais anos. Geralmente é causa de uma grande degradação do nível de vida dos indivíduos, que se traduz num afastamento da vida social, marginalização face a outros trabalhadores, efeitos que acumulados provoca uma situação de pobreza extrema, por vezes situando-se na linha de rutura social.

4.3.1. Números do desemprego em Portugal

Analisando os dados disponíveis no portal do Instituto do Emprego e Formação Profissional[2], IEFP, havia no final de março de 2020 um total de 321 164 desempregados em Portugal e no mês anterior, em fevereiro 293 016. Em março de 2019 havia um total de 309 841 mais 28 148, representando uma taxa de 9,6 pontos percentuais, que no mês anterior e mais 11 323 que em março de 2019 com uma taxa de 3,7%.

No Concelho da Guarda, segundo dados recolhidos no pordata, a taxa de desemprego no ano de 2001 era de 3,7 pontos percentuais. Esta taxa sobe para 6,4 pontos no ano de 2009, atingindo o seu valor mais alto no ano de 2015 com uma taxa de 11,2 pontos percentuais. Esta taxa de desemprego começa a cair a partir desse ano atingindo a percentagem mais baixa dos últimos 10 anos em 2018. Ainda não se encontram disponíveis dados do ano de 2019.

Quanto às habilitações académicas, segundo o portal pordata em 2001 2,2 porcento dos desempregados não possuíam qualquer habilitação, 4,2% possuía apenas o ensino básico, quanto ao ensino Secundário e pós-secundário a taxa de desempregados com este nível de estudos era de 4,6% e por fim a taxa de desemprego que atingia os indivíduos com o ensino superior era de 3,4%. No ano de 2019 a taxa total de desemprego no conselho era de 6,5%, sendo que 9,1% dos desempregados não possuía qualquer nível de escolaridade, quanto ao nível básico a taxa de desemprego atingia 6,6%, no nível secundário e pós-secundário a taxa era de 7,2 pontos percentuais, já a taxa de desempregados com o ensino superior era de 5,3%.

Os dados divulgados pelo IEFP no final de março de 2020, no conselho da Guarda havia um total de 1240 desempregados, sendo que 170 tinham menos de 25 anos, 268 pertenciam ao grupo etário compreendido entre os 25 e os 34 anos de idade, o grupo etário mais afetado era o de indivíduos com idade compreendida entre os 35 e os 54 anos de idade. Os desempregados com 55 anos ou mais eram 306 do universo total.

O grave panorama acentua-se ainda mais em territórios de baixa densidade populacional onde predominam os constrangimentos geográficos e, portanto, menos atividade económica e menos emprego. Problemática que ganha enfase em momentos de graves acontecimentos, mais uma vez, ao nível global como aquele que estamos a atravessar em consequência do vírus, COVID-19, obrigando os governantes de todo o mundo a tomar medidas de saúde pública que vão afetar todas as sociedades em todos os setores. Quando se meche num dos fatores, todos os outros são afetados ao nível económico, social, cultural, educativo, de saúde e científico.

Partindo de  um problema que já existia, o desemprego da população ativa, e que se agravou devido a todos os problemas causados pelas medidas que se implementaram para evitar um mal, ainda maior, com muitas empresas a ter de parar a laboração e entrar em lay-off, há a necessidade de evitar que quem está a viver uma fase de desemprego se sinta fracassado, que haja degradação da pessoa ao nível psicológico, de baixa autoestima, desmotivação, depressão, stress, irritabilidade, exclusão Social, um afastamento da vida social, discriminação face a quem trabalha, que estes indivíduos entrem em situações de rutura social.

Os dados foram recolhidos ao longo do mês de abril de 2020, enquanto elaborava a primeira parte do trabalho, no âmbito da Unidade Curricular de Programas e Projetos em Animação Sociocultural. A partir de meados de maio do mesmo ano saíram novos números do desemprego em Portugal no final de abril. Aquilo que era uma hipótese “A problemática do novo COVID-19 vai provocar um aumento substancial do desemprego”, quando surgiu a ideia do projeto, começa a confirmar-se com as notícias divulgadas a 21 de maio de 2020.

Segundo noticias divulgadas no Jornal de Notícias e noutros meios de comunicação social, referindo dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional, o desemprego no final de abril de 2020, aumentou 22% em relação ao mesmo mês de 2019 e 14,1% em relação ao mês anterior. Na região do Algarve houve um agravamento brutal, tendo o número de inscritos aumentado 124% em relação a abril de 2019, tornando-se na região mais afetada. “No fim do mês de abril de 2020, estavam registados nos Serviços de Emprego do Continente e Regiões Autónomas 392 323 indivíduos desempregados”, indicava o IEFP. Comparando com abril do ano anterior, havia mais 71 083 pessoas inscritas, o que representava uma subida de 22,1%. Face ao mês de março, eram mais 48 562 pessoas inscritas, ou seja, um aumento de 14,1%. Ainda segundo o IEFP foram as “mulheres, adultos com idade igual ou superior a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário” quem mais contribuiu para o aumento destes números. Se o Algarve foi quem mais contribuiu para este agravamento, ainda segundo o IEFP, nos Açores verificou-se um comportamento contrário com uma diminuição dos desempregados inscritos -6,2%, no final de abril.

“A este comportamento não será alheio o facto de o setor dos serviços, em concreto o turismo, ter sido o mais atingido pela pandemia de covid-19. "As subidas percentuais mais acentuadas, por ordem decrescente, verificaram-se nas atividades de: "alojamento, restauração e similares" (+60,6%), "atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio" (+41,2%) e "transportes e armazenagem" (+37,4%)", refere o IEFP” (J.N.).

“No setor “secundário”, destaca-se a subida nos ramos da “indústria do couro e dos produtos do couro” (+42,7%), da “indústria metalúrgica de base e fabricação de produtos metálicos” (+39,0%) e da “Indústria do vestuário” (+33,6%)”, apontam as estatísticas” (J.N.).

Uma vez que o desemprego e todos os fatores que se lhe sucedem trazem ainda problemas como a perda de rendimentos, carência económica, pobreza que vem afetar a população adulta, quando se vê em situação de desemprego, as suas famílias veem-se a braços com perda substancial de rendimentos, a comunidade em geral, o comercio local uma vez que há menos poder económico e o estado social, que perde as contribuições recebidas do trabalhador e ainda tem de contribuir com subsídios para a sobrevivência do desempregado.

Todos os cidadãos e órgãos políticos, tem razões para se preocupar uma vez que a degradação humana ao nível económico, traz consequências aos níveis cultural, educativo, de saúde, social, comunitário com o aumento da criminalidade, o aumento do consumo de psicotrópicos, o aumento de depressões, levam ao aumento das consultas de psicologia. Há uma diminuição do consumo, a queda da economia e o consequente recurso ao estado social.

O problema do desemprego não se consegue erradicar, no entanto este pode ser minimizado. Ele é mais acentuado em momentos de queda e crises económicas. Quando a economia começa a recuperar também o desemprego começa a diminuir uma vez que aumenta a confiança dos consumidores. Para um maior consumo tem de haver aumento de produtividade e mão de obra. Com maior poder de compra há maior consumo.

É urgente contrariar estereótipos e preconceitos que muitas vezes se criam em relação aos desempregados no geral, promover a autonomia, a autoestima e não só os níveis de literacia deste grupo de pessoas a quem se apelida de preguiçosos, em especial os de longa duração. Através da concessão de projetos, em qualquer uma das áreas Artísticas é uma forma de contrariar e evitar esses preconceitos ocupando-os de forma lúdica. Concretizando nos tempos em que esperam por um novo emprego, ou de novas formações um espaço que potencializa a consciencialização da sua individualidade, enquanto ser humano único, lutando pela dignidade humana, fazendo teatro de forma a descobrir-se. (Re)descoberta de si mesmo que surge a partir dos princípios fundamentais transmitidos pela Arte em geral e do Teatro em particular, da experiência acumulada do artista-educador-animador através da vivencia e o exercício a verdadeira função social do Teatro. Questões educativas ligadas à fruição, criação estética e artística, consciência social e práticas culturais têm uma dimensão associada ao tempo e espaço de procura, descoberta, realização pessoal e individual.

De forma a conhecer o grupo em específico com quem se vai trabalhar é importante efetuar um inquérito prévio, de forma a ir ao encontro das necessidades do público-alvo, bem como para o conhecer melhor e poder proceder a pequenas alterações que se possam vir a verificar no decorrer das atividades. O diagnóstico foi feito a partir de dados estatísticos recolhidos no website do IEFP e Pordata. Por forma a obter mais dados específicos da população desempregada do distrito da Guarda será contactado o IEFP para se proceder à distribuição do referido inquérito.

As principais forças deste projeto são o gosto pela experiência Artística por parte da discente; a motivação que esta tem para trabalhar e fazer coisas; bem como a sua formação académica. Finalmente uma das mais valias do projeto são os benefícios e ganhos do Teatro, expressão dramática, Teatro do Oprimido na intervenção social. Por outro lado, são pontos fracos a falta de experiência da discente, a burocracia nos processos administrativos no Poder Local e o acesso a apoios.

As oportunidades prendem-se com o aumento da taxa de desemprego.

Como ameaças, salientam-se a descrença dos indivíduos adultos, quanto aos resultados imediatos deste tipo de iniciativa Artística, bem como a estrutura organizativa do IEFP.

4.4. Programação

Dada a diversidade e pluralidade do ser humano, há uma enorme emergência de processos de valorização sociológica das relações humanas que os desempregados tendem a perder uma vez que se vêm privados das relações com os colegas de trabalho, de meios económicos para saídas com amigos e tendem, assim, a retrair-se ficando mais em casa sentindo-se desvalorizados, diminuídos, e com uma autoestima em baixo.

4.4.1. Objetivos

O projeto tem como objetivos valorizar a pessoa humana através das expressões artísticas em específico a expressão dramática, e o Teatro do Oprimido evitando a rutura das pessoas em situação de desemprego. Promover o teatro e a expressão dramática e corporal como estratégias facilitadoras da integração evitando o sentimento de fracasso por parte de quem se vê numa situação de desemprego;

Objetivos Específicos:

            - aumentar a autoestima dos desempregados evitando a degradação da pessoa Humana;

            - diminuir a desmotivação reduzindo as depressões a partir de dinâmicas de grupo;

            - evitar situações de afastamento da vida social, exclusão e rutura social diminuindo o stress através do lúdico;

            - motivar para a participação reduzindo a marginalização através da inclusão num grupo;

            - promover o auto e hétero conhecimento, a empatia e a autonomia;

- motivar para literacia;

- promover o bem-estar físico e psicológico.

4.4.2. Ação e implementação

As atividades que constam do programa inicial com jogos de apresentação e quebra-gelo, os indutores imagem, jornal, improvisação, personagem, teatro do oprimido e participação de todo o processo de criação de uma apresentação pública não se encontram concluídas e muitas delas são apenas linhas guia de orientação uma vez que elas dependem dos grupos, dos seus interesses, experiências de vida, vontade, estando em constantes adaptações consoante o momento dos exercícios e da avaliação que se for fazendo ao longo do atelier.

 As sessões do atelier para cada grupo serão de duas seções por semana duas horas e meia por sessão a marcar de acordo com a disponibilidade do grupo e do coordenador/animador. Tomemos por exemplo o seguinte: o Grupo 1 tem sessão na segunda-feira à tarde e volta a ter na quarta-feira. O grupo 2 terá na terça-feira à tarde e na quinta-feira à tarde. Pode ainda haver à sexta-feira à tarde ou ao sábado para os participantes que não integrem os grupos de formandos do IEFP, pelo que em vez dos normais 6 meses que dura o atelier passando a durar mais tempo apenas para estes grupos.

O número de horas do cronograma resumo é apenas uma aproximação. Este número de horas pode ser adaptado em função dos grupos, do interesse dos participantes, da necessidade dos trabalhos, entre outros.

O timing de elaboração do projeto foi o segundo semestre do ano letivo 2019/2020. O texto foi recentemente readaptado à situação atual e institucional uma vez que inicialmente foi elaborado com vista a ser implementado pelo TMG. Este foi planificado em forma de atelier de modo, a passar por todos os grupos que frequentam formação no IEFP, com possível implementação no auditório daquela instituição na Guarda assim que for possível, após concluídos os processos burocráticos.

Optou-se por contactar o IEFP porque esta é uma forma mais fácil de chegar até aos desempregados e cativá-los a participar, porque se nos deslocarmos aquela instituição para reunir informalmente com os diversos grupos em formação, há um contacto presencial e podem-se criar ligações afetivas entre quem vai dinamizar o atelier e os grupos.

O atelier será dividido em três fases ao longo de 6 meses, com seções de duas horas e meia por semana. Na primeira fase as sessões de expressão Dramática, estão organizadas e serão realizadas segundo as tipologias de Hellene Beauchamps e Gisele Barret. Na segunda fase são trabalhadas algumas seções e técnicas de teatro do oprimido e por fim, na última fase é construído um guião com apresentação de uma peça de teatro, criado a partir das histórias do grupo.

Segundo Hélène Beauchamps, as seções de jogos devem estar organizadas e divididas em seis fases: a ativação, descontração, interiorização, exploração, dramatização e retroação. Assim, os jogos-exercícios conferem ao atelier unidade e progressão desde a ativação até ao jogo síntese de teatralização. A sua maior qualidade é a de corresponder aos objetivos de expressão e de aprendizagem que lhe foram afixados e adaptar-se a quem a pratica. Por outro lado, utilizam-se os indutores da tipologia de Gizele Barret, objeto, imagem, som, personagem e texto.

4.4.3. Teatro do Oprimido

Para a segunda fase trabalha-se o Teatro do Oprimido, metodologia criada por Augusto Boal, nos anos de 1960. Segundo o criador (2013) permite usar o teatro como ferramenta de trabalho político, social, ético e estético, contribuindo para a transformação social. Segundo Boal, (1993) o “Teatro do Oprimido”, pretende transformar o espectador, para que este assuma uma forma ativa na ação, de forma a ultrapassar a quarta parede, sendo transformador da ação dramática que lhe é apresentada, de forma a que ele mesmo, espectador, passe a protagonista e transformador da ação dramática. Assim, a produção de uma peça de teatro a partir das estórias, experiências das pessoas e a quebra da quarta parede, permite ao espetador invadir a cena ativando os espetadores. Pretende-se a ativação das pessoas para além do palco e é isso que faz com que o Teatro do Oprimido seja um método para a emancipação. Procura “devolver, aos que o praticam a sua capacidade de perceber o mundo através de todas as artes e não apenas do teatro” (Boal, 2013, 15).

A poética do Teatro do Oprimido está organizada em diferentes formas ou técnicas de ações dramáticas, “Teatro-Jornal”, “Leitura simples”, “Leitura cruzada”, “Leitura complementar”, “Leitura com ritmo”, “Ação paralela”, “Improvisação”, “Histórico, “Reforço”, “Concreção da abstração”, “Texto fora do contexto”, “Teatro-Imagem”[3], “Teatro-Fórum”[4], “Teatro Invisível”[5]. Para além destas técnicas no teatro do oprimido podemos encontrar outras com o “Teatro-fotonovela” e a “Quebra de Repressão”.

O Teatro do Oprimido assenta em três princípios, a reapropriação dos meios de produção teatral pelos oprimidos; a quebra da quarta parede que separa o público dos atores e a insuficiência do teatro para a transformação social; a necessidade de se integrar num trabalho social e político mais amplo.

4.4.4. Teatro do Oprimido – implicações na Educação de Adultos

A metodologia do Teatro do Oprimido, criada por Boal visa promover as possibilidades desta forma de teatro para a formação de adultos, homens e mulheres oriundos normalmente das classes mais baixas, de forma a desenvolver o conhecimento e a criação artística, a postura cívica, bem como a acessibilidade cultural.

De forma a experimentar e aplicar, de maneira prática, algumas das técnicas sugeridas por Boal, compreender como este sistema teatral pode colaborar para a Arte-Educação e atingir os objetivos ambicionados é necessário compreender as relações existentes entre os sujeitos adultos. Trabalhar com este público, é imprescindível considerar a história de vida do participante, formando, considerando as motivações, objetivos e perspetivas que os indivíduos depositam na formação. Dessa forma, pretende-se verificar o sentido que o Teatro do Oprimido pode mostrar enquanto linguagem artística repleta de funções cognitivas e culturais.

Quando falamos de educação de adultos, segundo a Declaração da UNESCO, Hamburgo (1997) referimo-nos a um “conjunto de processos de aprendizagem formal ou não formal, graças ao qual as pessoas consideradas adultas pela sociedade a que pertencem desenvolvem as suas capacidades, enriquecem os seus conhecimentos e melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais ou as reorientam, de modo a satisfazer simultaneamente, as suas próprias necessidades e as da sociedade”. Esta não é apenas um direito, mas antes uma consequência das práticas de cidadania para uma completa participação na sociedade, para o século XXI. Atualmente uma formação académica já não é sinónimo de emprego e tem de se apostar na formação ao longo da vida, reciclando conhecimentos, mantendo-se atualizado, preparando-se, melhorando a capacidade de adaptação rápida e eficaz a situações de mudança. Em Portugal também se tem vindo a verificar um crescente interesse pela educação de adultos a partir da revolução de abril de 1974. Até então, ao longo da ditadura e o estado novo houve algumas tentativas de formar os adultos, no entanto eram ações curtas, pontuais sem sucesso devido ao regime político ditatorial.

A Educação de Adultos tem de partir, de um campo concreto, da especificidade dos tempos atuais, experiências vividas e das características especificas dos sujeitos reais, históricos que vivenciam estes tempos. Das formas concretas de encarar e reconhecer os seus direitos em particular de viver o direito à educação, ao conhecimento, à cultura, à memória, à identidade, à formação e ao pleno desenvolvimento.

Os adultos têm necessidade de conhecer o motivo pelo qual devem aprender, de estar conscientes, da responsabilidade das suas resoluções. É necessário que sejam vistos como indivíduos capazes de se auto gerirem, são portadores de experiência que os distingue das crianças e jovens. Estes têm a intenção de iniciar o processo de aprendizagem desde que compreendam a sua utilidade para determinadas situações da vida. Estes encaram a aprendizagem como um meio de resolver problemas e tarefas do dia-a-dia. Assim, a motivação para a aprendizagem é extrínseca, como promoção profissional, melhor salário, entre outros, mas principalmente intrínseca, promotora de autoestima, satisfação profissional e qualidade de vida.

Neste sentido o método mais utilizado e infalível na educação de adultos é o método ativo ou participativo, onde o individuo participa da organização do seu próprio programa de atividades de aprendizagem orientadas pelo coordenador. É um método pedagógico que pretende integrar os três níveis do saber: Saber – Saber, Saber – Fazer, Saber - Ser/Estar.

É possível dizer que O Teatro do Oprimido se afirma como um importante instrumento no mundo das artes e no espaço das lutas sociais. Assume uma importância ainda maior, como arte teatral na educação de homens e mulheres que não tiveram a possibilidade de concluir a escolaridade básica em etapas anteriores da vida.

Finalmente na terceira fase será iniciado o processo de elaboração de um guião e de criação de um espetáculo a partir das histórias de vida/vivências profissionais dos participantes ou da adaptação de um texto já existente.

O teatro pode assumir-se como uma estratégia absolutamente ímpar, utilizado, pelos técnicos de animação por forma a melhor diagnosticar, planear, comunicar, implementar e avaliar os seus projetos. Através deste criam-se oportunidades de adaptação e sobrevivência, de adaptação a novas linguagens, funções e saberes, promover a autonomia, estimular a autoestima e aumentar os níveis de literacia de indivíduos em situação de desemprego. Assim, também se está a valorizar a função social da Animação Sociocultural e os critérios que legitimam essa função. Legitimidade que provém das suas competências profissionais e humanas, mas também dos instrumentos por ele utilizados, protagonizam mudanças nos destinatários criando simbioses de expressão e de vida, projetando a sua presença num futuro mais justo, mais feliz e de mais oportunidades.

4.4.5. Recursos

Os recursos humanos, materiais e financeiros encontram-se resumidos na tabela de planificação das atividades. Nesta fase os recursos necessários são os Humanos, uma animadora. Dado que neste momento me encontro impedida de concretizar o projeto e devido a condicionalismos financeiros numa primeira fase temos de recorrer a estagiários em regime profissional, uma vez que requerem menor acompanhamento que um estagiário curricular. Numa fase posterior se assim for possível poderei assumir essas funções e com a obtenção de apoios financeiros proceder à contratação de um animador.

É ainda necessário um técnico de apoio e responsável pelo registo das imagens. Os recursos financeiros, serão para aquisição de alguns materiais de escritório e pagamento de salários.

O projeto é de âmbito Socioeducativo que pretende valorizar e dar voz aos desempregados a partir das expressões artísticas em particular o Teatro.

Inicia-se ainda a divulgação deste na cidade de forma a cativar interessados a participar e a criar um grupo e iniciar a experiência, distribuindo algumas fichas de inscrição ou inscrição online. Pode ainda contactar-se as associações sociais e culturais do concelho de forma a averiguar a possível existência de interessados que possuam algum tipo de ligação com a associação.

A partir do momento que se formar um grupo de até 20 pessoas no máximo, há que elaborar um cronograma de calendarização das atividades, reservar o auditório do IEFP e proceder à verificação de que existe todo o material necessário para que as sessões decorram com normalidade. Devido à atual situação o grupo constitui-se com 15 participantes, sempre que possível as atividades devem decorrer nos espaços exteriores do IEFP. Todos os participantes, antes de iniciar também lhes é distribuída informação de sensibilização para as regras de higiene e segurança dada a situação pandémica. Medidas estas que devem ser logo divulgadas nos suportes de comunicação, seguindo as indicações da Direção Geral de Saúde, criando para o efeito um plano de emergência de forma a proteger as instituições em caso de contaminação. Desta forma está a passar-se confiança aos participantes de que a instituição está a fazer tudo para os proteger e garantir a qualidade. Será ainda seguido o esquema do corredor de circulação de entrada e saída, bem como medidas de limpeza e higienização. São ainda disponibilizados e obrigatórios Equipamentos de Proteção Individual (EPI`s) descartáveis. Os participantes com ligação ao IEFP, que aí frequentam formação, que será nosso parceiro já possuem seguro de acidentes pessoais, para os restantes, tem de se providenciar um seguro.

Reflexão

Neste trabalho/projeto, propus um percurso de pesquisa académica e análise bibliográfica tendo como base a expressão Dramática o Teatro do Oprimido e as restantes expressões Artísticas como disciplinas do saber e do conhecimento bem como as implicações metodológicas desta modalidade teatral para a educação de adultos. Para fazer um correto diagnóstico efetuei uma recolha de dados estatísticos do desemprego no portal do IEFP, bem como no pordata. Concebi um inquérito por forma a recolher outro tipo de informação de pessoas desempregadas e o possível interesse de outos adultos em situação de desemprego em atividades artísticas, que coloquei online. No entanto a amostra foi insignificante pelo que optei pelo contacto direto com o IEFP e efetuar parceria. Com isso, pretende-se possibilitar aos formandos adultos o contato com a arte, em particular a arte do teatro, por meio de uma proposta pedagógica prática de expressão artística. Para além disso, o Teatro do Oprimido, sendo uma prática de arte cívica, abre espaço para a manifestação expressiva dos participantes. Assim, acredito que o caráter popular e participativo deste tipo de Teatro pode favorecer uma atitude educativa relevante, de forma a respeitar as características individuais do formando.

Quanto à natureza do teatro do Oprimido, pode-se afirmar que se mostra uma forma de expressão transgressora e inquietante pelo fato de possibilitar a participação de qualquer pessoa na criação artística. Por isso, acredito que este seja adequado para o trabalho com pessoas que possuem trajetórias de vida marcadas por algum tipo de opressão social, como acontece com adultos em situação de desemprego. Espera-se, com a produção estética que alimenta o projeto, enfraquecer o estereótipo, constatando e legitimando o protagonismo dos formandos em situação de desemprego numa atividade educativa que visa mobiliza-los da condição de espectadores para a condição de espectatores, expressão usada por Boal para definir que no Teatro do Oprimido as pessoas podem ser ao mesmo tempo espetadores e atores: observadores, mas também participante. Desta forma promover o bem-estar físico e psicológico dos adultos em situação de desemprego, evitar a rutura motivando-os para a participação e crescimentos enquanto pessoas, e seres humanos em pensamento, conhecimento e saber.



[1] Pobreza enquanto, escassez de recursos de que um individuo, ou família, dispõem para satisfazer necessidades básicas, destacando a forma como os recursos se encontram repartidos entre os indivíduos e famílias na sociedade.

[2] Todos os dados são os recolhidos em abril de 2020. Dadas as limitações de tempo não houve lugar a novas pesquisas.

[3] Tem a intenção de ensaiar uma transformação da realidade, utilizando a linguagem e a imagem do corpo. Dispensa-se o uso da palavra – para que se possam desenvolver outras formas percetivas. Usa-se o corpo, fisionomias, objetos, distâncias e cores que obrigam a ampliar a visão sinalética – onde significantes e significados são indissociáveis, como o sorriso da alegria no rosto (Boal, 2013). Em primeiro lugar, decide-se um tema problema a ser tratado, que pode ser local ou global, mas que de certa forma tenha um significado para a maioria do grupo. Em seguida alguns atores disponibilizam-se no espaço cénico como massas adaptáveis, ou melhor, novas estátuas, o ator protagonista vai esculpindo essas estátuas procurando representar imageticamente a situação em questão. É fundamental que haja silêncio total. Ao montar o quadro vivo os espetadores são convidados a modificar as imagens problema, para uma situação correta criando uma imagem de transição entre o problema e a solução.

[4] A mais “conhecida e praticada em todo o mundo, usa ou pode usar todas as formas teatrais conhecidas, a estas acrescentando uma característica essencial: os espetadores – aos quais chamamos de spect-atores que são convidados a entrar em cena e atuando teatralmente” (Boal, 2013, pp. 17-18). Os atores representam até expressarem uma problemática, e em seguida propõem aos espetadores que intervenham na sua solução, por meio da ação cénica, para resolver o problema apresentado.

[5] Esta proposta pretende a representação de uma cena diante de pessoas que não sabem que estão a ser espetadoras da ação, por acontecer num ambiente fora dos ambientes convencionais e dentro do dia-a-dia das pessoas. “Pode ser apresentado em qualquer lugar (rua ou praça, supermercado ou feira, autocarro ou cinema)” (Boal, 2013, p. 18). Nesta forma de apresentação é necessário preparar um guião de improvisação, onde se vai ensaiar a possível interferência do espetador no ato estético coletivo. Cabe aos atores prolongarem a discussão dos espetadores a respeito do tema abordado na cena, de forma a que outros “atores anónimos” se insiram no contexto e reafirmem a veracidade da ação para o espectador, que neste momento já passa a ser protagonista. Aqui “atores e espetadores encontram-se no mesmo nível de diálogo e de poder, não existe antagonismo entre a sala e a cena, existe superposição” (Boal, 2013, p. 18).

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